10.7.16

invisalign - continuação

Retomo o tema invisalign, que comecei aqui. Antes de avançar com o tratamento fiz algumas pesquisas na internet e não encontrei muitas experiências pessoais relativas ao mesmo em português — e aquelas que encontrei não partilhavam muitos detalhes, especialmente dos primeiros tempos. Espero contribuir um pouco com um testemunho real já que é um tratamento que exige alguma ponderação, pelo investimento financeiro e pela disponibilidade necessária.

O invisalign é um aparelho dentário móvel. Aliás, são vários aparelhos móveis, muitos até. São aligners transparentes que se trocam de 15 em 15 dias até o tratamento estar concluído. Tal como o nome indica, o invisalign pretende alinhar os dentes da forma mais invisível possível. O nome não foge totalmente à verdade, é de facto mais discreto que um aparelho fixo metálico, mas num contacto íntimo ou próximo nota-se ligeiramente.

No entanto, é um notar com o qual se vive bem. É, acima de tudo, um aparelho removível. Deve ser retirado para as refeições — para o tratamento correr perfeitamente, apenas para as refeições — mas pode ser retirado em qualquer outra situação. Um jantar de amigos. Uma entrevista de emprego. Uma festa. Um casamento. Tira-se por umas horas e coloca-se mais tarde — e foi isso que me convenceu: poder retirá-lo num dado momento em que quisesse sentir-me totalmente bem e confiante.

Como funciona?

Não vou entrar em detalhes técnicos, há muita informação aqui, em português. Explico apenas que com as radiografias e os moldes (tal como para um aparelho fixo) é criado um plano de tratamento (que fica disponível em 3D, o que permite ver como irão ficar os dentes no final do tratamento). O processo do paciente segue para os EUA, onde os aligners são produzidos (os aparelhos removíveis que se vão trocando de duas em duas semanas) e de seguida enviados para Portugal.

Contei aqui a primeira parte: selecção da clínica, radiografias e moldes. Entretanto o processo seguiu para os EUA e passadas umas semanas recebi um telefonema a dizer que os aligners tinham chegado.

O primeiro dia

Tive consulta num final de tarde de quarta-feira. A consulta foi longa, duas horas, pois ainda eram necessários alguns preparativos, como a colocação de alguns attachments. Já sabia que teria de colocá-los e estava com algum receio de que se notassem pois parecem piercings dentários, não de todo o meu estilo. Mas na realidade não se notam quase nada. Ao contrário dos piercings, que costumam ser brilhantes, são do tom do dente e passam despercebidos. [Pequeno detalhe: nem todos os casos exigem a colocação de attachments.]

Duas horas depois estava tudo pronto (os attachments têm de ser colocados e secados, um a um, todo um processo) e... Entrei em pânico. Experimentei o primeiro aligner e não consegui tirá-lo sozinha. O meu dentista tirava-o facilmente com um dos seus instrumentos mas eu, que deveria fazê-lo com os dedos, só dizia não consigo, não consigo. [Para quem estiver a pensar utilizar: calma, é só a primeira vez, os aligners estão adequados aos nossos dentes e entram e saem facilmente.]

Acabei por conseguir tirar e voltar a colocar sozinha. Saí do consultório com os primeiros aligners nos dentes e parecia-me que ocupavam muito espaço. Sentia a boca, as gengivas e o interior das bochechas um pouco (bastante?) magoadas. Sentia-me inchada. O Manel foi buscar-me e entrei no carro com as mãos à frente da boca. Não vejas, não vejas, nota-se imenso (consigo ser bastante infantil nestas situações). Mas na verdade custava-me falar e estava um pouco de pé atrás com toda a situação.

A primeira semana

A primeira noite e os primeiros dois, três, talvez quatro dias foram... Chatos. O meu pensamento constante era mas o que é que fui fazer ou isto nota-se imenso ou ainda será que vai ser sempre assim? Sou avessa à mudança e demoro a adaptar-me a coisas novas. Sou assim com quase tudo na vida e não foi diferente com o invisalign. No entanto, olhando para trás agora até acho que me habituei depressa. Quatro dias, num tratamento de dois anos e picos, não é nada.

A boca continuava magoada e custava-me falar. Tirava os aligners para falar ao telemóvel com alguém e sentia-os o tempo todo. O facto de trabalhar em casa e de não ter de falar com muitas pessoas foi uma bênção nos primeiros tempos. Mas mesmo assim sentia os aligners constantemente. Salivava bastante (babava-me quase), estava completamente sopinha de massa e os pensamentos negativos mantinham-se: como é que fui gastar tanto nisto? Era um constante "levar as mãos à cabeça".

Ao terceiro dia resolvi retomar as pesquisas, desta feita em inglês. Tal como disse, não há muitos testemunhos em português e aqueles que encontrei não me pareceram muito isentos (provavelmente associados a publicidade). Nas pesquisas deparei-me com uma plataforma onde são partilhadas experiências pessoais com os mais variados tipos de tratamentos, essencialmente estéticos, nomeadamente o invisalign. Veio salvar toda a situação.

Li alguns dos testemunhos e fixei-me especialmente num que dizia "just stick to it [invisalign] the first two weeks and you will survive" (aguentem as primeiras duas semanas [com o invisalign] e irá correr tudo bem). Li o testemunho até ao fim e revi-me em cada detalhe. Foi tranquilizador concluir que tudo o que estava a sentir era natural — toda a saliva em excesso, a dificuldade a falar, a sensação de boca demasiado ocupada. Relaxei e pensei isto vai melhorar.

As semanas seguintes

Estou a fazer o tratamento há quase dois meses e meio, já vou no quinto conjunto de aligners (relembro, são alterados de duas em duas semanas). Na primeira consulta trouxe logo seis conjuntos (para três meses) e no início de Agosto tenho nova consulta (para ver a evolução e trazer novos aligners). Como é que está a ser? Houve algo que li no tal testemunho que se aplica totalmente: já é estranho estar sem os aligners — o que resume o à-vontade com que estou. Coloco-os logo após cada refeição (depois de lavar os dentes, claro).

Já é tudo muito metódico: retirar, tomar o pequeno-almoço, lavar os dentes e voltar a colocar. Sempre assim para cada refeição. E na realidade, no dia-a-dia, quase que nem me lembro que estou a utilizar. Falo normalmente (por vezes ainda me sai um "s" mais prolongado mas nada como no início), utilizo-os o máximo de tempo (idealmente 22 horas por dia, sobrando duas horas para as refeições) e não dou por eles. Quando acordo nem me lembro que os tenho até ter de os tirar para o pequeno-almoço.

Há quem tenha notado logo num primeiro contacto — Ah, estás a usar um aparelho! — há quem não tenha reparado sequer — Pai, já estou a usar o tal aparelho de que lhe falei (pausa para olhar atentamente para mim) Querida, não se nota nada! — A verdade é que cumpro as 22 horas diárias sem dificuldade, estou sempre com o aparelho, é raro passar mais tempo sem o mesmo. Tirando o pânico e ansiedade inicial, que me caracterizam, está a correr a 100% e não estou nada arrependida.

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