28.1.16

escrever

Gosto de escrever. Nem sempre reúno as condições (sossego, algum isolamento - sim, sei que sou complicada) de que preciso para o fazer como gosto, com maior subtileza, mas até mesmo na escrita mais leve ou técnica encontro prazer. A produção de conteúdos fez parte das diversas experiências profissionais que tive - antes da vida freelancer - e era o que fazia com maior satisfação, sem hesitações, provavelmente por ser um momento autónomo, só meu. Gosto de trabalhar sozinha.

Curiosamente encontrei, recentemente, uma plataforma online que aceita encomendas de artigos (da parte de publicações digitais ou mesmo de particulares) e atribui a elaboração dos mesmos a redactores freelancer. Ser recompensado por escrever, de uma forma tão simples? Desconfiei. Bom demais para ser verdade. Passeei pelo site para perceber o funcionamento: depois de elaborados e revistos por uma equipa de editores os artigos são entregues ao cliente e o freelancer é devidamente remunerado.

Decidi registar-me. Um processo muito simples: são solicitados apenas alguns dados e um texto com um mínimo de 500 palavras (mais ou menos o equivalente a uma página word) para a equipa de editores poder avaliar a minha escrita. Nesse momento pensei que talvez se tratasse de algo sério. Preparei um texto dentro de um dos quatro temas que sugeriam. Li, corrigi, voltei a ler, gostei do que li e submeti. Passadas 24 horas úteis tinha a resposta: candidatura aceite. 

A partir desse momento passei a ter acesso aos "artigos disponíveis" na plataforma. Espreitei e não encontrei nenhum. Voltei umas horas mais tarde, nada. Voltei ontem de manhã e estava um artigo disponível, uau! Confesso que nem me recordo do tema, apenas me lembro dos requisitos para o mesmo: artigo com um mínimo de 650 palavras - o que será uma página e meia - e valor: 2€. 2€. Para investigar sobre um tema, recorrer a várias fontes e produzir um texto?

Estimei que precisaria de pelo menos uma hora, provavelmente um pouco mais. Pareceu-me demasiado absurdo para ser real e tentei perceber se a plataforma estava realmente a ser utilizada por mais pessoas. Pesquisa rápida no Google e fui parar a um fórum onde percebi que, entre aqueles que tinham sido aceites como redactores (porque houve candidaturas recusadas), reinava alguma felicidade por estarem prestes a receber 6€ por três artigos que tinham escrito. Três artigos. Umas três horas?

Útil em situação de desespero, de desemprego? Claro, não digo que não. A plataforma deixa claro que não se trata de um emprego, apenas de um complemento? Sim, deixa claro. Contudo, complemento ou não, não deixa de ser um valor demasiado baixo para o trabalho que representa. Não é "qualquer um" que escreve, como não é qualquer um que traduz ou que ensina. A produção de conteúdos requer um certo nível de vocação, entre exigências de cariz e rigor técnico.

Depois do choque inicial fiquei apenas triste. Crio expectativas com facilidade e fiquei entusiasmada com a possível actividade paralela - a fazer algo que gosto. Enfim, já passou. Vou voltar a espreitar o site para tentar perceber se mantêm os mesmos valores - o que imagino que sim - mas não estou disposta a colaborar nesses termos e fico incomodada (apesar de compreender potenciais situações de desespero) com o facto de algumas pessoas estarem.

Fotografia de Florian Klauer, Unsplash

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